As a partner at Dilúvio Publishing I have some leeway to experiment with new techniques and approaches to illustration, specifically illustrating poetry. It's been one of my new passions, a much needed break from political illustration. For Clepsydra, the classic anthology of the Portuguese poet Camilo Pessanha, I introduced elements of digital watercolour, generated with the Rebelle software. I deliberately played around with the random features of the software engine, looking for a watery quality but with a modern technological twist, combined with my usual graphite on paper technique and Photoshop. For reference, Clepsydra is an ancient time-measuring device worked by a flow of water. For me, the randomness of watercolour has been a perfect visual metaphor for the impermanence of life.

Eu vi a luz em um país perdido.

A minha alma é lânguida e inerme.

Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!

No chão sumir-se, como faz um verme…

Há no ambiente um murmúrio de queixume,

De desejos d’amor, d’ais comprimidos…

Uma ternura esparsa de balidos

Sente-se esmorecer como um perfume.

Ao meu coração um peso de ferro

Eu hei-de prender na volta do mar.

Ao meu coração um peso de ferro…

Lançá-lo ao mar.

Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho,

Onde esperei morrer, – meus tão castos lençóis?

Do meu jardim exíguo os altos girassóis

Quem foi que os arrancou e lançou ao caminho?

Imagens que passais pela retina

Dos meus olhos, porque não vos fixais?

Que passais como a água cristalina

Por uma fonte para nunca mais!…

Inútil! Calmaria. Já colheram

As velas. As bandeiras sossegaram

Que tão altas nos topes tremularam,

– Gaivotas que a voar desfaleceram.

Porque o melhor, enfim,

É não ouvir nem ver…

Passarem sobre mim

E nada me doer!

Depois da luta e depois da conquista

Fiquei só! Fora um acto antipático!

Deserta a Ilha, e no lençol aquático

Tudo verde, verde, – a perder de vista.

Tenho sonhos cruéis: n’alma doente

Sinto um vago receio prematuro.

Vou a medo na aresta do futuro,

Embebido em saudades do presente…

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